data-filename="retriever" style="width: 100%;">A pandemia me deixa recluso em Tiradentes, sem viagens à Paulicéia Desvairada e à velha Lutéce, hoje Paris. Por conta disso entro em leilões de livros pela Internet e, quando consigo obtê-los, os recebo aqui. Agora tenho nas mãos um exemplar do O Visconde do Rio-Branco - José Maria da Silva Paranhos - editado no Rio de Janeiro pela Typographia do Imperial Instituto Artístico em 1871, autor Luiz d'Alvarenga Peixoto.
O livro é fascinante, abrindo-se - nas duas primeiras páginas após a capa, I e II - com uma carta dirigida a José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco. Percebem? Luiz d'Alvarenga Peixoto escreveu esse livro a respeito do pai do seu amigo - o Visconde - e a ele o dedicou - o Barão!
Um livro encantador. Tantas as transcrições de palavras do Visconde, que me perco ao tentar optar por esta e aquela, e outras mais, palavras que, cá eu, desejaria transcrever.
Jovem jornalista no Rio de Janeiro, em 1845 foi eleito deputado na Assembleia Legislativa Provincial. Redator-chefe do Correio Provincial, ali escreveu textos primorosos. Depois foi crescendo intelectual e, politicamente, primorosamente também (permitam que eu repita), tanto e tanto que não consigo tudo dizer a respeito da sua conduta exemplar como ser humano no espaço deste meu texto.
Em 1853, integrou-se no Partido Conservador e em 1864 foi enviado ao Uruguai com o objetivo de conseguir um fim diplomático para a Guerra do Uruguai. Em 1869 ao Paraguai, a atuar visando ao fim da Guerra do Paraguai. Sua primorosa atuação fez com que Dom Pedro II a ele conferisse o título de Visconde do Rio Branco. Nomeado Presidente do Conselho de Ministros em 1871, sua atuação foi sábia e prudente, coroando-a a iniciativa da Lei do Ventre Livre, que alforriava crianças nascidas de mulheres escravas.
O que mais me encanta, no entanto, é uma dedicatória manuscrita neste exemplar em minhas mãos, que leio e releio procurando descobrir a quem é o livro oferecido. Dedicatória assinada por "J. M. da Silva Paranhos", sem "Júnior". E mais, a alguém cujo nome não consigo discernir, que poderia ser - mas não é - "Peixoto". Escrita em Piraju, nosso primeiro município a abolir a escravidão anteriormente à data de vigência da Lei Áurea, de 13 de maio de 1888.
A dedicatória é datada de 3 de junho, mas sem indicação de ano. Como a cidade, até então, designada Tijuco Preto, recebeu a denominação de Piraju em 6 de junho de 1891, tudo indica que é posterior a essa data. Sendo ela do Barão do Rio Branco - o filho do Visconde - ponho-me a mascar e remascar as dúvidas que me enlaçam... O que importa de verdade é que tenho agora os dois cá comigo, o Barão e Luiz d'Alvarenga Peixoto. As pandemias e a literatura nos fazem vencer o tempo e estarmos aqui, agora, a conversarmos sem parar!
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